terça-feira, 10 de junho de 2008

FAXINA NO CEMITÉRIO

Em 1998 , a minha tarefa diária era procurar emprego . Apesar de muito esforço , eu não conseguia nada .
Então , resolvi ligar para as minhas antigas colegas , para saber se alguma delas possuía conhecimento de alguma vaga .
Assim , liguei para todas de A à Z , mas nenhuma sabia de alguma vaga disponível para serviço . Então , eu estava quase desistindo , quando vi o nome de Zulmira e decidi ligar . Então , agi deste jeito :
- Boa – tarde , por favor , Zulmira se encontra ?
Assim , a outra voz que atendeu falou :
- É ela mesma .
Deste jeito , eu falei :
- Zulmira , não sei se você lembra de mim , meu nome é Luciana , eu estudei com você na faculdade . Como você sabe , sempre fui uma aluna esforçada , porém estou sofrendo com um problema grande : o desemprego . Eu gostaria de saber se por acaso você sabe de alguma vaga disponível para o meu perfil , ou , se pode oferecer algum serviço para mim .
Então , Zulmira disse :
- Bem , eu não sei de nenhuma vaga disponível ...Na verdade , eu precisava de alguém que fizesse , um certo tipo de serviço ... mas não sei se você toparia ...
Assim , eu falei :
- Pode ficar à vontade para falar ... Afinal , não sou de recusar trabalho .
Deste jeito , Zulmira falou :
- Eu precisava de alguém para fazer a faxina da cripta da minha família , que está no cemitério municipal .
Sem pestanejar , eu topei o serviço na hora .
No dia seguinte , de manhã , eu fui à casa de Zulmira para pegar o material de limpeza e o endereço da cripta .
Então , cheguei no Cemitério Municipal , achei a cripta , abri os seus portais com a chave , guardei o cadeado no bolso e comecei o serviço .
Troquei as flores , e , enquanto limpava o chão de costas para a parte externa , escutei um barulho . Então , olhei para trás .
Assim , notei que os portais da cripta , tinham sidos fechados com um cadeado estranho . Pois , o original estava no meu bolso .
Então , comecei a gritar :
- Socorro , socorro , socorro ...
Mas , naquela sexta – feira nublada , parecia que não havia uma viva alma naquele cemitério .
Então , cansada de gritar , resolvi continuar o serviço .
Depois , de duas horas , vi um grupo de jovens góticos se aproximando .
Assim , gritei :
- Socorro , estou trancada nesta cripta !
Então , uma das jovens falou :
- Aposto que você se trancou dentro desta cripta de propósito , pois sabia que hoje seria o dia do nosso sarau .
Deste jeito , eu perguntei :
- Sarau ?
- Que sarau ?
Assim , a jovem falou :
- Sarau de poesia . Nós , góticos , fazemos saraus poéticos , todas as sextas , neste cemitério . Lemos poemas dos grandes mestres : Alvares de Azevedo , Lord Byron , Rimbaund ... Também , lemos poemas de nossas próprias autorias .
Então , eu disse :
- Eu também gosto de poesia , mas eu não me tranquei de propósito nesta cripta . Para dizer a verdade eu nem sei o que aconteceu ...
- Eu apenas vim limpar este local e quando eu estava esfregando o chão , de costas para a parte exterior , eu ouvi um barulho estranho , então quando me virei alguém já tinha passado o cadeado na porta desta cripta .
Deste jeito , a jovem falou :
- E você pensa que a gente vai acreditar nesta história ?
Assim , eu falei :
- Por favor , chame o coveiro , ou , o administrador do cemitério , pois eu não posso ficar trancada aqui .
Então , um outro jovem do grupo falou :
- Vamos começar o sarau !
Deste jeito , eles leram lindos poemas de autores conhecidos e desconhecidos

. Eu apenas fiquei admirando aquelas doces palavras .
Porém , quando os góticos foram embora , eu comecei a gritar , novamente :
- Socorro , socorro , socorro !
Passei uma hora gritando e como estava frio , resolvi dar mais uma olhada no interior da cripta . Então , abri um pequeno baú delicado , que estava ao lado do vaso de flores ,e , dentro deste baú , achei um caderno de poesias , que parecia que tinha sido escrito com pena . Algumas páginas estavam estragadas , mas outras estavam perfeitas . No meio do caderno , tinha este poema :

Curitiba , Julho de 1917

A Menina Dentro da Cripta

A menina dentro da cripta ...
Tem uma alma infinita ...
Porque ela já morreu ...
No fundo do breu ...

Mas , ela não sabe deste acontecimento ...
Por isto , ela se perde no sentimento !
A menina dentro da cripta tem a alma dolorida ...
Dentro do seu corpo de donzela ferida ...

Ao ler esta última estrofe , senti uma fraqueza e desmaiei ...
Quero dizer , não sei desmaiei ou se dormi ...
Porque tive o seguinte sonho :
Eu estava na mesma cripta e uma menina de 12 anos , loira , com laços na cabeça e com vestido comprido todo cor de rosa , resolveu me falar :
- Por favor , leia as minhas poesias ... Publique os meus escritos , pois você é poetisa , também , e por isto sabe o que eu estou sentindo . Eu fui assassinada , por favor , reze por mim !
Após dizer isto , a menina me deu o mesmo caderno nas minhas mãos e sumiu .
Então , após esta visão , eu acordei e estava no hospital . Ao meu lado estava Zulmira , que me falou :
- Boa – noite ! Eu lamento o que aconteceu ...Provavelmente , algum marginal desgraçado , resolveu fazer esta brincadeira com você , trancando – a na cripta . Então , no desespero você deve ter desmaiado e por isto está aqui , neste hospital .
Assim , eu disse :
- Acho que foi isto mesmo . Mas , eu fiz o serviço direitinho e espero que você tenha gostado .
- Deste jeito Zulmira falou , tirando uma nota de cinqüenta reais , da bolsa
: - Gostei mesmo !
Então , eu dei um sorriso de satisfação .
Mas , Zulmira , ainda acrescentou isto , com o misterioso caderno em suas mãos :
- E pode ficar com este caderno de poesias , de 1917 .
Assim , eu perguntei :
- De quem era este caderno ?
Assim , Zumira disse :
- Foi de uma menina , antiga parente minha , que morreu com apenas 12 anos de idade . O padrasto matou e violentou a pobre . Seu nome era Regina .
Então , logo depois que sai do hospital , mandei rezar uma missa pela alma de Regina .
E com você , leitor , já aconteceu algo semelhante ?

Retirado da internet.

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